Resenha: Pathfinder, de Orson Scott Card (por Marcus Vinicius de Medeiros)
O bom autor sempre consegue explorar novas facetas de temas batidos. Em Pathfinder, Orson Scott Card aborda a questão da viagem no tempo e de colonização planetária com muita originalidade e desenvoltura, o que resulta em um dos romances de ficção científica e fantasia direcionado ao público jovem mais interessantes dos últimos tempos.
Desde que li O Jogo do Exterminador, há cerca de dez anos, tenho acompanhado os livros de Card com atenção, e nunca saí decepcionado. Aqui, ele investe suas forças no garoto Rigg, que tem a habilidade de “enxergar” os caminhos percorridos por indivíduos desde o começo dos tempos. Seu melhor amigo, Umbo, por sua vez, pode manipular o fluxo de tempo, e quando os dois misturam suas habilidades, as possibilidades são ilimitadas.
Pathfinder contém duas histórias que correm em paralelo, e só vêm a convergir bem no final do romance. A principal é a de Rigg, que se inicia numa cidadezinha quando seu pai morre acidentalmente – não sem antes o incumbir de encontrar a irmã que ele nem sabia existir. A partir daí, o jovem parte com Umbo numa jornada imprevisível para a capital, que o leva a cruzar o caminho da família real deposta e traz revelações surpreendentes sobre sua identidade. No meio de tudo, o passado do mundo é reescrito várias vezes, os heróis recebem visitas de suas contrapartes do futuro e voltam eles mesmos ao passado recente para modificar algumas ações. A história secundária, narrada nas primeiras páginas de cada capítulo, é a do oficial terrestre Ram, no comando de uma nave em missão colonizadora no espaço, na qual os paradoxos também afloram.
As situações muitas vezes parecem complicadas, e os próprios protagonistas questionam o que de fato estaria acontecendo em meio aos problemas cronológicos. Fica fácil lembrar uma cena do filme A Origem na qual os personagens se perguntam no subconsciente de quem estariam em dado momento. Claro que ninguém gosta de se sentir perdido durante a leitura, e aqueles pouco acostumados à ficção científica terão maior dificuldade, mas o sense of wonder acaba falando mais alto.
Pathfinder, a exemplo de outros trabalhos de Orson Scott Card, aproveita a ambientação fantástica para explorar questões como amadurecimento, confiança e o poder da amizade. Vale dizer também que os personagens estão longe de meras novas versões de Ender e companhia, apresentando qualidades e defeitos próprios. O livro é longo, são mais de 670 páginas, mas tudo flui bem naturalmente, e a sequência será lançada em breve. Definitivamente um início promissor para a nova série de um nome da ficção científica que ainda tem muito a oferecer. Card acertou novamente.
Marcus Vinicius de Medeiros é jornalista e colaborou durante anos com os sites Omelete e Almanaque Virtual e as revistas Sci Fi News e HQ Express. Hoje escreve reviews de quadrinhos para o Universo HQ. Ele afirma que, sendo um jovem tímido, sempre se dedicou à leitura de revistas em quadrinhos e à literatura fantástica. Podemos dizer que é o famoso “nerd de carteirinha”, o que, convenhamos, é um baita dum elogio!