Resenha: OSMOSIS (por João Gomes Moreira)
Produção francesa original da Netflix tem roteiro com premissas intrigantes. OSMOSIS, (2019), é uma criação de Audrey Fouché. Penso ser necessária a introdução da definição biológica do termo ‘Osmose’ para que se possa “apreender” os desdobramentos do eixo temático proposto pela criadora. A definição geral encontrada é: “A osmose é o movimento de água que ocorre dentro das células através de uma membrana semipermeável. Esse processo é realizado a partir de um meio com menor concentração de água para outro com maior concentração”1. Os descritores do processo (ocorrência de trocas e transporte) levam a traçar um paralelo com o amor. Aliás, a própria frase de abertura no pôster é: “e a ciência criou o amor”.
A época em que se passa é num futuro não tão distante. E realmente não estamos tão distantes assim, se considerarmos que estatísticas dizem que mais de 20% dos encontros amorosos da atualidade foram iniciados através da rede mundial de computadores (Cardoso diz que chega a 40%)2. As redes sociais permitem hoje o acesso rápido a uma lista de informações e dados sobre seus membros que podem auxiliar na depuração e escolha de parceiros, facilitando o processo e ganhando tempo.
A proposta da empresa de biotecnologia é, em princípio, alimentar uma base de dados de pessoas que buscam uma companhia com um conjunto imenso de informações pessoais e depois cruzar os dados com os pretendentes opostos, a fim de descobrir se são compatíveis entre si3. Uma vez encontrado passa-se a segunda etapa, que é através de implante no braço de um dispositivo (que tem a semelhança do símbolo anarquista…). Feito isso, o par pode marcar o seu primeiro encontro ou a celebração de seu “matrimônio”.
A cidade onde ocorre a ação é Paris, com sua vida noturna pulsante, porém, sem ser aproveitada. A maior parte dos acontecimentos ocorre na empresa. As linhas mestras despertam a curiosidade do expectador através das especulações sobre sociedade, ética; e as interações entre homem-máquina; o modo de vida mediado pelas tecnologias e as implicações pessoais de deixar a busca do parceiro para que computadores a façam. Os primeiros voluntários que se submeteram ao experimento tem diferentes perfis e facetas que são aos poucos expostas ao longo dos episódios.
A lógica e racionalidade também está subjacente às discussões sobre a aplicação da tecnologia, e as interações entre o homem e os recursos tecnológicos e virtuais.
O roteiro coloca em cheque as questões de controle e o amor romântico. O controle da vida cotidiana, suas causas e consequências. A felicidade repousa numa vida controlada, esterilizada, higienizada…. O amor pode ser “criado”? Seríamos mais felizes se soubéssemos que um computador com sua análise e algoritmos chegou à conclusão equilibrada e encontrou a pessoa ideal (entre milhões de opções: etnias, culturas, etc.) para compartilhamento da vida para todo o sempre?! Seria este projeto um passaporte para o sonhado final de conto de fadas: “e foram felizes para sempre”? O resultado da busca seria preciso? A razão deve ser a mestra, exclusiva e suprema da condução da vida?
Título |
Osmosis (Season 1) (Original) |
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Ano produção |
2019 |
Dirigido por |
Mona Achache, Pierre Aknine, Thomas Vincent (I) |
Estreia |
29 de Março de 2019 |
Gênero |
Ficção Científica, Romance |
Países de Origem |
França |
1 Conforme: https://www.significados.com.br/osmose/.
2 Vide: CARDOSO, A.P. Encontros em sites de relacionamento. Disponível em: http://arevistadamulher.com.br/relacionamento/content/2254666-encontros-em-site-de-relacionamento-podem-levar-a-relacoes-serias
3 Coisa que já existe há cerca de 10 anos (Ex.: Match. E-Harmony, etc.).